Brasil
27 de Junho de 2025

1. Boletim Focus: Selic elevada, inflação em queda e dólar a R$ 5,72
O Boletim Focus divulgado pelo Banco Central trouxe revisões importantes nas projeções econômicas. A taxa Selic, mantida em 15% após a alta da semana passada, deve encerrar o ano nesse patamar, segundo os analistas do mercado financeiro. Essa taxa, que serve como referência para os juros no país, segue elevada em um cenário de combate à inflação. Enquanto isso, o dólar tem projeção de encerrar 2025 cotado a R$ 5,72.
Por sua vez, a inflação, medida pelo IPCA, continua em trajetória de queda. A estimativa agora é de 5,24% para o ano, abaixo dos 5,25% da semana anterior, a quarta revisão consecutiva para baixo. Ao mesmo tempo, a expectativa de crescimento do PIB aumentou pela terceira semana seguida e chegou a 2,21%. O cenário reflete otimismo com a atividade econômica, mesmo diante de juros altos e câmbio pressionado.
Folha de S.Paulo: Economistas aumentam previsão dos juros e reduzem a da inflação
ISTOÉ Dinheiro: Em ata, Copom sinaliza manutenção da Selic em 15% ‘por período bastante prolongado’
2. Déficit em maio recua e contas públicas têm melhor resultado desde 2021
O governo federal registrou um déficit primário de R$ 40,6 bilhões em maio de 2025, conforme dados do Tesouro Nacional divulgados nesta quinta-feira (27). Apesar do resultado negativo, houve melhora em relação ao mesmo mês de 2024, quando o déficit foi de R$ 60,4 bilhões. O desempenho superou as expectativas do mercado, que projetava um rombo de R$ 62,2 bilhões. O bom resultado é atribuído principalmente ao aumento da arrecadação e à redução de gastos discricionários.
Do lado das receitas, houve crescimento expressivo no Imposto de Renda retido na fonte e nas contribuições à Previdência, além de alta na arrecadação com importações. No campo das despesas, destacaram-se cortes nas áreas de saúde e educação e uma retração de R$ 3,9 bilhões nos benefícios previdenciários. A ausência de gastos emergenciais, como os registrados no ano passado com as enchentes no Rio Grande do Sul, também ajudou a aliviar as contas públicas.
No acumulado de janeiro a maio, o governo apresenta superávit primário de R$ 32,2 bilhões, revertendo o déficit de R$ 28,7 bilhões no mesmo período de 2024. Esse é o melhor desempenho desde 2022 e reflete, em parte, a diferença no cronograma de pagamento de precatórios, que em 2025 somou R$ 30,8 bilhões, contra uma concentração maior desses gastos em fevereiro do ano anterior. A receita líquida do período cresceu 8,6%, alcançando R$ 968,6 bilhões, enquanto as despesas caíram 3,3%, somando R$ 936,4 bilhões.
Exame: Contas públicas do governo têm déficit de R$ 40,6 bilhões em maio
3. Fitch mantém nota da dívida brasileira com perspectiva estável
A agência de classificação de risco Fitch decidiu manter a nota da dívida pública do Brasil dois níveis abaixo do grau de investimento, reafirmando a perspectiva estável da avaliação. Segundo a agência, a decisão se baseia em fatores estruturais como o elevado e crescente endividamento público, rigidez orçamentária, governança frágil e baixo crescimento potencial da economia. Além disso, a proximidade das eleições presidenciais de 2026 e a relação tensa entre o Executivo e o Congresso foram apontadas como entraves à resolução dos desafios fiscais no curto prazo.
Essa avaliação reforça a estabilidade relativa da percepção internacional sobre o risco de crédito do Brasil, mas também destaca os limites para uma eventual melhora no curto prazo. Desde 2023, o país está dois níveis abaixo do grau de investimento segundo a Fitch e a S&P, e um nível abaixo na classificação da Moody’s, que recentemente reduziu a perspectiva brasileira de positiva para estável. O Ministério da Fazenda não comentou oficialmente a decisão da Fitch.
Agência Brasil: Fitch mantém nota da dívida brasileira e não prevê mudanças
4. Congresso derruba decretos do IOF e governo cogita judicializar
O Congresso Nacional impôs uma derrota histórica ao governo Lula ao derrubar os decretos que aumentavam as alíquotas do IOF, em decisão conjunta da Câmara e do Senado. A votação foi expressiva: 383 deputados votaram a favor da revogação, enquanto no Senado a aprovação foi simbólica. Foi a primeira vez, desde o governo Collor, em 1992, que um decreto presidencial é anulado por votação parlamentar, evidenciando o desgaste na articulação entre o Executivo e o Legislativo.
A decisão surpreendeu o governo, que esperava articulações mais cautelosas diante do recesso parlamentar de São João. Nem mesmo os líderes da base e a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, foram informados previamente. O presidente da Câmara, Hugo Motta, afirmou que a falta de diálogo e o que classificou como tentativas do Planalto de desgastar o Congresso motivaram a votação. A oposição e parte do Centrão também acusam o governo de transferir a culpa por aumentos na conta de luz para os parlamentares.
Diante da derrota, o governo estuda a possibilidade de judicializar a questão, embora integrantes da base temam que isso acirre ainda mais a crise política. A avaliação no Planalto é de que o episódio fragiliza a governabilidade e pode comprometer o andamento da agenda econômica. A ministra Gleisi afirmou que não há base jurídica para sustar os decretos, e o PT questiona se o Congresso teria ultrapassado suas prerrogativas constitucionais. A crise evidencia a crescente dificuldade do governo em coordenar sua base no Congresso e conter o avanço de pautas independentes.
Folha de S.Paulo: Congresso derruba decretos do IOF, e governo avalia judicialização após derrota
5. Brasil lança roteiro global para financiar ação climática até a COP30
Durante a Conferência do Clima da ONU em Bonn, na Alemanha, o Brasil apresentou o roteiro “De Baku a Belém”, proposta que visa guiar o financiamento climático para a COP30, marcada para 2025 em Belém. A embaixadora Tatiana Rosito, representando o Ministério da Fazenda, destacou que o documento busca ser claro, crível e acionável, com foco em integrar a agenda climática às políticas macroeconômicas dos países. A meta é mobilizar US$ 1,3 trilhão em recursos e impulsionar uma resposta coordenada ao aquecimento global.
O plano propõe uma união inédita entre os ministérios da Fazenda e do Meio Ambiente, com o objetivo de engajar ministros de Finanças na mobilização de recursos públicos e privados para a agenda climática. Rosito reforçou que o Círculo de Ministros de Finanças da COP30 já discute alternativas de financiamento mais acessíveis para países em desenvolvimento, com atenção à adaptação e aos danos decorrentes das mudanças climáticas. A CEO da COP30, Ana Toni, também ressaltou que o roteiro ajuda a repensar a arquitetura financeira global.
A proposta brasileira inclui recomendações concretas como a criação de plataformas nacionais para conectar capital privado a projetos socioambientais, além de mecanismos como precificação de carbono e supervisão de bancos nacionais com foco climático. Segundo Simon Stiell, secretário da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima, o grande desafio agora é transformar os compromissos em ação prática e política, com escala e urgência. O Brasil, ao apresentar esse roteiro, busca liderar a articulação internacional rumo a soluções financeiras mais inclusivas e eficazes.
Exame: De Baku a Belém: em Bonn, Brasil lança roteiro para financiar clima e foca em ministros das finanças