O cenário político e as empresas em 2016

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Depois de encerrar 2015 mergulhado numa crise de credibilidade e sem condições de fazer avançar o ajuste fiscal, o governo da presidente Dilma Rousseff terá como primeiro teste de resistência para 2016 garantir alguma governabilidade em um ano pautado pela combinação entre crise econômica, turbulência política e eleição municipal. Prevalece neste momento no Palácio do Planalto um entendimento claro: ou o governo entra em fevereiro com a casa minimamente arrumada ou seguirá refém do jogo político da oposição na volta do Congresso aos trabalhos, em fevereiro.

A equipe presidencial atua neste início de ano sem qualquer pretensão de fazer projeções de médio a longo prazo na seara política. Trabalha, basicamente, com o mês de abril como horizonte. Ministros próximos à presidente dizem torcer para que não ocorra “nenhum fato novo relevante” – leia-se alguma denúncia comprovada envolvendo a cúpula do governo, a direção petista ou mesmo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De qualquer forma, a prioridade imediata ainda é aproveitar o período até o Carnaval para dar mais clareza à estratégia para a área econômica. Para o setor empresarial como um todo, uma das primeiras medidas de impacto será a definição da postura do governo em relação aos juros e à meta de inflação. As atenções no governo estão neste momento voltadas em grande parte para a reunião que será realizada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nos dias 19 e 20 de janeiro, a primeira de 2016.

Publicamente, a presidente Dilma Rousseff continua dizendo trabalhar para trazer a inflação para o patamar de 6,5%, valor que equivale ao teto da margem de dois pontos fixada sobre a atual meta de 4,5%. Nas reuniões internas, entretanto, a equipe presidencial estuda os riscos de elevar o centro da meta. Isso porque há forte preocupação do governo em blindar o novo titular da Fazenda, Nelson Barbosa, e evitar que estratégia do ministro termine engessada demais.

Ao mesmo tempo, o Planalto tenta buscar uma maneira de reter investimentos em meio ao ajuste fiscal. O governo começou, por exemplo, a reavaliar programas desenvolvidos por órgãos como a Agência de Promoção de Exportações (Apex) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Também se empenhou em retomar o diálogo com o empresariado, com medidas como a reativação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o “Conselhão”. Assim, alguns setores podem ganhar medidas de incentivo para amenizar o impacto da crise, como é o caso da construção civil.

Crise e eleição

É consenso que as investigações da Operação Lava Jato continuarão sangrando o governo. Dentro dessa premissa, há uma preocupação específica com as menções a ministros próximos da presidente Dilma nas delações premiadas, principalmente aqueles que integram o círculo próximo da presidente.  É o caso do chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, e do titular da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Edinho Silva.

A esse quadro, soma-se o desafio de estancar a articulação de um impeachment da presidente no Congresso, capitaneada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e pela oposição.  Hoje, o governo estima que teria votos suficientes para derrotar um processo de impedimento contra Dilma,  mas com margem apertada.

Mas o calendário do ano, avaliam alguns auxiliares da presidente, pode contribuir para amenizar o tamanho do desgaste que vem pela frente. Primeiro, por conta da proximidade entre réveillon e o carnaval, que este ano será no início de fevereiro. Segundo, pela realização dos Jogos Olímpicos no Rio. E, depois disso, espera-se que ao menos parte da crise política nacional seja transferida para a esfera municipal, por conta da aproximação do período eleitoral. Essa mudança tende a dirigir os holofotes para alguns temas a serem acompanhados de perto pelo setor produtivo: em especial mobilidade urbana, segurança pública, emprego e investimento regional.

Por outro lado, a aproximação das eleições municipais também pode intensificar outro problema que já começa a ser sentido pelo governo federal: o embate com o PT. Na esperança de sobreviver à crise e amenizar o impacto nas urnas, o partido da presidente Dilma tem reforçado o discurso de retomada de origens e investido cada vez mais pesado nas críticas explícitas à política de juros altos e ao ajuste fiscal. Equacionar a sede do partido às necessidades da equipe econômica é uma tarefa que certamente demandará boa parte das energias do governo na articulação política durante todo o novo ano.

Author – Clarissa Oliveira