Uma lição da corrupção no Brasil

VOLTAR

Em 2005, quando o Brasil ainda assistia à eclosão do mensalão – até então o maior escândalo de corrupção da história do país – ouvia-se recorrentemente da boca de políticos, empresários, acadêmicos e intelectuais que as coisas dificilmente mudariam dali em diante por um motivo relativamente simples: ninguém tinha interesse ou coragem de enfrentar o sistema.

Por esse raciocínio, políticos sentavam-se à mesa dos mais caros restaurantes de Brasília, em jantares regados a uísque e vinhos caros, para especular sobre esse modo de fazer as coisas no Brasil. Era recorrente a avaliação de que nada daquilo seria diferente no futuro e que ainda estava para chegar o dia em que alguém prenderia ou condenaria um político ou empresário importante no país.

Dez anos depois, envolvidos no mensalão cumprem ou cumpriram pena por sua participação no esquema de compra de apoio no Congresso. Líderes de grandes empresas estão presos, em meio às investigações da Operação Lava Jato. Mas o que ocorreu em 2005 nem de perto se equipara ao que se vê atualmente. Agora, a profundidade da crise e a extensão das denúncias são imensuravelmente maiores. E os envolvidos, mais numerosos.

A sucessão de eventos que marcou a última década deixa uma lição clara: nunca a capacidade de responder rapidamente a uma crise se fez tão necessária no Brasil. Vale para governos, partidos, políticos, empresas, entidades da sociedade civil e organizações não-governamentais. Virou ferramenta de sobrevivência, num ambiente onde a instabilidade política é constante e o pessimismo sobre a economia é crescente. Virou diferencial competitivo para o setor produtivo, num ambiente onde as oportunidades se fazem cada vez mais escassas e onde menos empresas conseguem se manter saudáveis na adversidade.

Neste momento, é fundamental a compreensão de que a crise não atinge apenas quem a protagoniza. Inúmeras empresas cuja atividade tem relação direta ou indireta com as grandes empreiteiras brasileiras estão sentindo profundamente os efeitos das denúncias da Operação Lava Jato. Além disso, a instabilidade política e econômica permeia todos os setores de atividade produtiva e comercial do país, tornando um plano estratégico de comunicação fundamental para se diferenciar da concorrência diante da escassez de demanda e retração do crédito.

O que se vê em muitos dos agentes que estão no centro da crise é um despreparo para lidar com essa adversidade. Uma dificuldade de compreender que a comunicação vai além da imprensa e dos agentes com os quais se relacionam diretamente.

Governos e partidos, por exemplo, demonstram certo desalinhamento de discursos. As decisões são tomadas quase como em modo de teste: primeiro, lança-se uma estratégia no ar para depois avaliar se ela deu certo ou não. Sem alarde, ocorrem trocas às pressas de ocupantes de cargos-chave nas áreas de comunicação governamental. O resultado são ações desastradas, notas oficiais divulgadas sem crivo e sem análise de impacto, desmentidos, e assim por diante.

No fim das contas, o fato é que há dentro e fora do Brasil uma dificuldade de compreensão do que de fato se passa na política nacional. Esse mesmo sentimento já permeia administrações estaduais e municipais. E o clima, em geral, é de imprevisibilidade.

Ainda assim, conversas com empresários e executivos de grandes companhias estrangeiras apontam para um horizonte um pouco diferente daquele que se vê na esfera pública: o de que toda crise traz consigo oportunidades. Quem ainda se dedica a um exercício de enxergar o Brasil no longo prazo entende que nasce, em meio a essa adversidade, a chance de uma recomposição de forças no setor produtivo. Enfraquecem-se os grandes cartéis e o modo “tradicional” de fazer negócios. Abrem-se portas para quem estiver disposto a fazer uma aposta.

O sucesso de uma empreitada nesse sentido não é garantido. Mas certamente passa por um ponto crucial: a capacidade de se apresentar da maneira correta para a opinião pública e de enxergar as possibilidades além do senso comum.

Author – Clarissa Oliveira